quinta-feira, 18 de junho de 2009

Estética e Beleza

“A Beleza não conta com um emprego evidente; tampouco existe claramente qualquer necessidade cultural sua. Apesar disso, a civilização não pode dispensá-la.” (S. Freud, “Futuro de uma ilusão / O mal-estar na civilização e outros trabalhos”, 2006)

A estética sempre entrou na lista de temas enigmáticos para muitos estudiosos de diferentes áreas. Se olharmos através da Antropologia a estética parece sempre ter sido parte da condição humana. Desde as pinturas rupestres contemporâneas ao Período Paleolítico já era possível identificar um processo em direção a uma certa estética nas imagens. A História da Arte também está como cúmplice neste projeto que demonstra que a busca por uma determinada forma, cor ou enfeite parece ter sempre sido parte inerente ao comportamento dos homens.

Mas o que nos interessa aqui não é discutir a fundo a origem da estética em si, mas sim analisar uma ligação bastante profunda que parece existir entre o sujeito feminino e a noção de beleza (estética do belo).

Exemplos salientando o poder resultante da ligação entre a beleza e a figura da mulher são inúmeros. Desde a sexualidade de Eva que capta a atenção do “demônio” e que depois seduz Adão levando ao Pecado Original na tradição bíblica, até a presença, por exemplo, de uma Deusa da Beleza (Afrodite) no campo mítico grego. O uso do adjetivo “belo” relacionando-se ao sujeito feminino parece uma relação tão natural quanto antiga na civilização ocidental. Cabe assim a questão se essa referência seria apenas construída a partir de um meio social ou se existe algo que realmente conecta intimamente o gênero feminino e a sua estética.

Em 1925 Freud escreve um texto de nome bastante explicativo por assim dizer: “Algumas Conseqüências Psíquicas da Diferença Anatômica entre os Sexos” e nele desenvolve a idéia da importância da anatomia na construção do psíquico do indivíduo, principalmente do superego. Nesse texto o psicanalista insere conceitos como a “inveja do pênis” que seria própria do sexo feminino. A menina ao não possuir referência anatômica visível de seu sexo (como a masculina) sofre uma ferida em seu narcisismo primário. Dessa maneira, como forma de compensação, o sujeito feminino iria supervalorizar tudo aquilo que lhe é visível, ou seja, seu corpo como um todo, sua estética por assim dizer.

“(...) o narcisismo primário, estruturante do Eu Ideal e matriz organizadora do Ideal do Eu, está relacionado a uma forma; é implicado por uma estética. Mas, disso já sabíamos pela formulação lacaniana acerca do estágio do espelho. O que se nos apresenta como novo é a forma, a estética como destino feminino, isto é: há um entrelaçamento entre a estética e a mulher desde o início de sua constituição psíquica e tal relação que é tão antiga quanto a formação de seus ideais, participa da construção de seu superego.(...)” (S. Medeiros, “O Belo e a Morte”, 2005)

Assim da mesma maneira que percebemos claramente a propagação deste pensamento (ligando estética e feminino) através de um meio social também encontramos na Psicanálise explicações que nos mostram a estreita conecção entre os dois termos desde as primeiras fases de desenvolvimento do indivíduo. Desta forma como resultado da adição dessas duas vertentes (difundida socialmente e intrínseca ao sujeito feminino) temos apenas uma potencialização da idéia inicial – a estética e o feminino andando juntos. A mulher que já possui por si só uma ligação com sua forma, ao receber informações, exemplos e idéias do meio social onde está inserida (tornando assim mais evidente sua conecção com a estética) tende a elevar ainda mais esse comportamento. Não é difícil perceber tal fato, basta observar quanto tempo uma mulher em média passa cuidando de sua aparência, tentando adequá-la a um padrão estipulado na sociedade como esteticamente belo.

Na sociedade atual vivemos o supra-sumo desta idéia do binômio mulher-beleza. A idéia de atração que o belo trás consigo prende a atenção do olhar, e numa sociedade onde as imagens ganham mais destaque do que nunca, um segundo da atenção do consumidor em potencial pode ser decisivo para o sucesso ou não de uma venda. Assim encontramos muito mais a figuras de mulheres do que de homens no meio da imagens contemporâneas agindo de duas formas: como identificação com um modelo para o público feminino e como objeto desejável para o público masculino.

Concluindo, numa sociedade onde a presença de mídias (principalmente visuais) é fato marcante, e sabendo a importância que o olhar assim adquire, é de fácil percepção entender a elevação exagerada da condição estética atual que exige um padrão quase impossível de se manter.

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