sexta-feira, 15 de maio de 2009

Erotismo nos Quadrinhos:

Como já visto na década de 1950 as primeiras portas foram abertas para um novo tipo de personagem feminina muito mais decidida, independente e confiante. As representações dessas mulheres nas páginas dos HQs iam ganhando cada vez mais componentes de um erotismo semi-assumido que transparecia em suas expressões corporais, vestimentas, etc...

Em 1954 é lançado o livro “Seduction of the Innocent”, do psiquiatra Fredric Werthan, que justamente faz uma crítica aos quadrinhos da época que ao seu modo de ver eram uma literatura popular ruim e uma das sérias causas da delinqüência juvenil. Werthan enfatiza os diversos temas sexuais “escondidos” nas páginas dos HQs (expondo posicionamentos bastante polêmicos como sua crença no homossexualismo de Batman e Robin ou as tendências lésbicas da Mulher-Maravilha). O resultado do polêmico livro foi a criação do “Comics Code” (Código de Ética das HQs, na versão brasileira) que proibia a violência e a exacerbada erotização dos quadrinhos. Dessa forma todo o conteúdo mais provocante (imagens de sexo, nudez, poses inadequadas etc...) não poderiam ser apresentados e nem sugeridos.

Com essa situação do novo código, toda a produção norte-americana sofre determinada censura por parte da CCA (Comics Code Authority – Autoridades do Código dos HQs) e com isso presenciamos na Europa o surgimento de uma linha de autores pouco preocupada com o que seria politicamente correto.

Em 1962 o francês Jean-Claude Forest publica na revista "V - Magazine" a história de uma personagem que viajava pelo espaço a procura de novas experiências – Barbarella. A jovem de longos cabelos loiros e rosto provocante não escondia seu apetite sexual intenso que era retratado nesta que foi considerada a primeira HQ assumidamente adulta. A partir de “Barbarella” surge na França uma série de histórias em quadrinhos eróticas que tinham em sua grande maioria mulheres como protagonistas: “Scarlet Dream” (1965) de Claude Moliterni e Robert Gigi, “Les Aventures de Jodelle” (1966) de Guy Peellaert e “Paulette” (1970) de Georges Wolinski e Georges Pichard são apenas alguns exemplos bastante famosos dentre os quadrinhos eróticos que surgem naquele momento.

Na Itália alguns nomes também se destacavam nesse novo campo dos HQs. Guido Crepax é o criador de três musas do estilo: “Valentina” que surge em 1965, “Bianca” em 1968 e “Anita” em 1971, além de ter adaptado clássicos da literatura erótica para os quadrinhos (Emmanuelle e Justine por exemplo). As mulheres de Crepax sempre apresentam uma atitude independente e decidida. O autor defendia o conteúdo bastante recheado sexualmente dizendo que suas personagens eram mulheres por inteiro e portanto não tinha recalques em relação a sua nudez, e completando:

“(...)Aliás, eu diria que nos meus quadrinhos, quem mais faz papelão são os homens:sempre fui feminista e não é por acaso que Valentina tem uma profissão, a fotografia, que na época era exclusivamente masculina.”

Milo Manara, que fora ex-aluno do escultor espanhol Barrocal, também ganhou atenção no ramo ao lançar “Clic” (1983) que girava em torno da incompreensão entre os sexos e alguns temas polêmicos como o prazer feminino. Considerado dono de um traço inconfundível Manara é aclamado pelas perfeições das formas de suas personagens e assim como Crepax não apresenta o sexo de forma simplista ou sem conteúdo crítico.


Enquanto isso nos Estados Unidos surge nos anos 60 o movimento underground de contracultura. Esse movimento teve sua vertente dentro de todos os tipos de Arte e, por conseguinte, nos HQs. É aí que encontramos exemplos de quadrinhos mais erotizados no circuito norte-americano.

Em razão do Comics Code a única maneira possível de produção de quadrinhos com conteúdo mais erótico seria dentro de um movimento independente e que não buscava o selo de aprovação da CCA para sua circulação. Aparecem revistas como a “Zap Comix”, impressas de forma caseira, com número limitado de cópias e vendidas de mão em mão pelos próprios editores que não censuravam qualquer tipo de conteúdo considerado “subversivo”. Junto aos temas proibidos nas grandes publicações vinham também críticas próprias desse movimento de contracultura como a não aceitação do “American way of life” em seu capitalismo desenfreado.

Com o tempo, o surgimento de diversas revistas do gênero e o aumento dos meios não-convencionais de distribuição dessas, o sucesso das HQs undergrounds não precisou da aprovação da CCA para estabelecer-se. Assim após alguns o anos o Código de Ética das HQs foi revisto e a liberação de algumas causas aceitas.

0 comentários:

Postar um comentário